Estenose Lombar: Entenda a Condição e Suas Opções de Tratamento

A estenose do canal vertebral é uma condição caracterizada pelo estreitamento do canal espinhal, que é a estrutura onde passa a medula espinhal e as raízes nervosas. Esse estreitamento pode exercer pressão sobre os nervos e causar uma variedade de sintomas, que podem impactar significativamente a qualidade de vida dos pacientes.

O que é a estenose do canal vertebral?

O canal vertebral é um espaço presente dentro da coluna vertebral, responsável por abrigar e proteger a medula espinhal e as raízes nervosas. Estas estruturas, por sua vez, atuam fornecendo movimento e sensibilidade para todo nosso corpo. Quando ocorre um estreitamento desse canal, seja por alterações ósseas, tecidos moles ou outros fatores, o espaço disponível para essas estruturas diminui, podendo levar à compressão nervosa.

Representação da conformação habitual do canal vertebral, com a medula e estruturas neurológicas em seu interior, circundados pelo disco, ligamento amarelo e arcabouço ósseo/articulações.

Causas da estenose do canal vertebral

As causas mais comuns incluem:

1. Alterações degenerativas:

A osteoartrite e a degeneração dos discos intervertebrais podem causar o crescimento de osteófitos (esporões ósseos) e o espessamento do ligamento amarelo.

 
Estenose degenerativa da coluna lombar, evidenciando os 3 componentes que contribuem para o estreitamento do canal vertebral: elementos ósseos hipertróficos, espessamento do ligamento amarelo e abaulamento/protusões/herniações discais.

2. Hérnia de disco:

O deslocamento do disco intervertebral pode invadir o canal espinhal e exercer pressão sobre os nervos.

A esquerda, canal vertebral livre de compressões; à direita, canal completamente obliterado por volumosa hérnia de disco.

3. Doenças congênitas

Algumas pessoas nascem com um canal vertebral naturalmente mais estreito.

4. Fraturas ou lesões

Traumas na coluna podem alterar a anatomia normal do canal vertebral, devido à retropulsão dos elementos vertebrais posteriores.

5. Espondilolistese

O deslocamento de uma vértebra sobre outra pode reduzir o espaço do canal.

Sintomas

Os sintomas podem variar em intensidade, dependendo do grau de compressão. Os mais comuns incluem:

  • Dor lombar e irradiada para as pernas: Pode ocorrer uma dor lombar isolada, porém o mais frequente é sua irradiação para região das nádegas e membros inferiores.
  • Claudicação neurogênica: Fraqueza, dormência ou sensação de formigamento nas pernas, que piora ao caminhar ou ficar em pé por longos períodos. É observada uma progressiva redução da distância de caminhada sem dor ou necessidade de interrupção.
  • Alívio ao se inclinar para frente: Algumas pessoas percebem que a dor melhora ao se curvarem para frente, como ao andar de bicicleta ou subir uma ladeira
  • Perda de força muscular: pode variar desde uma percepção subjetiva de fraqueza nas pernas até incapacidade para andar ou se locomover.
  • Alterações no funcionamento da bexiga ou intestino: Em casos graves, pode ocorrer incontinência urinária ou fecal, exigindo atenção médica imediata.

Diagnóstico

O diagnóstico da estenose do canal lombar começa com uma avaliação detalhada de história clínica e exame físico, seguida de exames complementares.

  • Histórico médico: Entender os sintomas, hábitos de vida e antecedentes familiares. Em geral, uma história clínica bem feita já é altamente sugestiva do diagnóstico da estenose lombar
  • Exame físico: Avaliação da força muscular, reflexos e sensibilidade.
  • Exames de imagem: o exame mais utilizado em seu diagnóstico é a ressonância magnética, dada sua boa visualização das estruturas neurológicas. Muitos casos são complementados por tomografia computadorizada e radiografias, pois fornecem importantes informações sobre as estruturas ósseas, estabilidade e alinhamento da coluna.
Imagens de ressonância magnética diagnosticando estenose lombar em 2 níveis. Em vermelho apontadas áreas de canal estenótico; em verde, canal livre de compressão.

TRATAMENTO

O tratamento da estenose do canal lombar deve ser individualizado e levar em conta a severidade dos sintomas, repercussão na qualidade de vida, nível de atividade e comorbidades, acometimento neurológico e presença de instabilidade associada. Ele pode ser dividido em duas categorias principais: tratamento conservador (não cirúrgico) e tratamento cirúrgico. A seguir, detalhamos cada abordagem.

1. Tratamentos Conservadores

É a abordagem inicial na grande maioria dos casos, e envolve os seguintes elementos:

  • Fisioterapia: com o objetivo de promover alongamento, flexibilidade e fortalecimento muscular, fornecendo melhor suporte para a coluna vertebral durante as atividades. Na etapa inicial, também são importantes as técnicas para analgesia e alívio da crise (calor, gelo ou ultrassom terapêutico para reduzir a inflamação e a dor)
  • Medicações: analgésicos simples, anti-inflamatórios, opioides e medicações moduladoras da neurotransmissão.
  • Infiltrações ou bloqueios: também fazem parte do tratamento não cirúrgico, consistindo em recursos para controle álgico e otimização da reabilitação, em geral após a falha do tratamento medicamentoso e fisioterápico. É realizada a injeção de medicação próximo ao local do nervo comprimido (região epidural).
  • Mudanças no estilo de vida: envolve medidas posturais, controle do peso, adaptação de atividades na rotina (por exemplo, evitar longos períodos em pé ou sentado na mesma posição) e a prática de atividades físicas.
Procedimento de infiltração lombar para controle álgico, com injeção medicamentosa diretamente nos locais de compressão neurológica.

2. Tratamentos Cirúrgicos

A cirurgia é indicada quando os tratamentos conservadores não oferecem alívio suficiente ou quando há sintomas graves, como fraqueza progressiva, dificuldade para caminhar ou alterações no controle da bexiga e intestino. Existem algumas possibilidades terapêuticas:

1. Descompressão

Trata-se de um dos procedimentos mais comuns. Consiste na remoção de parte da lâmina (estrutura óssea) e ligamento amarelo para aumentar o espaço no canal espinhal e aliviar a compressão dos nervos. Pode ser direcionada apenas ao canal central ou se estender à região lateral por onde saem os nervos da coluna (o forame, constituindo o procedimento chamado foraminotomia).

Pode ser realizada por cirurgia aberta (técnicas de laminectomia e split do espinhoso – menos invasiva) ou por vídeo / endoscópica.

Imagem de ligamento amarelo espessado, retirado em cirurgia de descompressão por via endoscópica.

2. Artrodese (Fusão Vertebral)

A cirurgia de artrodese envolve, além da descompressão, a fixação/fusão de duas vértebras adjacentes, em geral associada à colocação de um cage (“espaçador” entre as vértebras, que substitui o disco intervertebral). Está indicada nos casos em que a estenose é acompanhada por padrões de instabilidade ou espondilolistese (“escorregamento”) entre as vértebras.

Imagem pós operatória de cirurgia de descompressão associada à artrodese. Em amarelo, observamos a ausência da lâmina e parte das articulações, ressecadas durante a descompressão. Em azul, o cage; em verde, os parafusos pediculares.

Prognóstico e Benefícios do Tratamento

Com o tratamento adequado, seja conservador ou cirúrgico, a maioria dos pacientes experimenta uma redução significativa dos sintomas e uma melhora na qualidade de vida. Nos casos de cirurgia, o sucesso depende do diagnóstico correto, da técnica cirúrgica utilizada e do comprometimento do paciente com a reabilitação.

Se você está lidando com sintomas de estenose do canal lombar, não hesite em buscar orientação médica. Um plano de tratamento personalizado pode fazer toda a diferença na sua recuperação e bem-estar.

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